quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Guerra Civil no Brasil?


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Onofre Ribeiro

A sensação de guerra civil vem crescendo no Brasil, num viés paralelo entre três segmentos: o Estado através dos seus organismos ligados à segurança pública e à justiça, os comandos organizados pelos “generais” dentro do sistema prisional, e uma crescente construção de fileiras de indivíduos recrutadas aqui fora, a partir dos presídios.

Uma das definições de guerra civil é: “Diz-se guerra civil a um conflito armado entre facções, partidos ou grupos de um mesmo povo, ou ainda a que ocorre entre povos ou etnias habitantes de um mesmo país. (...) A guerra pode ter motivos religiosos, étnicos, ideológicos, econômicos ou territoriais”. No caso brasileiro é mais sério, porque toda a sociedade paga impostos que consomem dos cidadãos quatro meses de trabalho por ano, mas sentem-se inseguros ou desprotegidos por uma guerra civil entre facções do Estado e facções criminosas.

A origem da criminalidade urbana é recente. Começou depois de 1970 com a urbanização brasileira e a marginalização de enormes camadas de pessoas que vieram do meio rural para cidades que não se prepararam para receber os fluxos. A favelização, a ausência de serviços essenciais de educação, de saneamento, de saúde pública, de transportes, de pavimentação das ruas, de legalização dos terrenos e o tratamento dos moradores como cidadãos de segunda classe. Sem educação adequada formaram camadas de trabalhadores braçais ou de segunda linha.

Nesse ambiente proliferou a baixa auto-estima e a competição com os cidadãos de primeira classe. Perdedores desde o início, os jovens dos últimos dez anos nessa condição viram no crime a saída imediata para os seus anseios de competição pelo consumo de bens pessoais, com um simples tênis ou roupas de marca. Cooptados pelo chamado crime organizado, tudo o que está acontecendo são jogos de mercado fáceis de serem compreendidos.

Paralítico ou míope, o Estado preferiu lidar com essas situações com o discurso político de ganha-ganha unilateral, não indo além da exploração dos votos dessas imensas camadas urbanas, mediante promessas de soluções futuras. E se desculpando sempre com a falta de recursos públicos, como essas camadas sociais não pagassem impostos e fossem desvalidos sociais mais ou menos descartáveis.

Agora, no momento em que eles se organizaram politicamente e tem comando centralizado dentro dos presídios, protegidos pelo Estado e salvos de sanções legais, as fileiras de soldados cá fora dos presídios se multiplica progressivamente e já confronta o Estado, com suas velhas táticas. Hoje, prender já não significa nada. No lugar do preso surgem novos voluntários, porque os “generais” presos nos presídios estaduais ou nos de segurança máxima garantem às suas famílias, renda, proteção, armas, planos de ação e um status social.

Aí estão as raízes da atual guerra civil. Voltarei ao assunto.

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso - onofreribeiro@terra.com.br
Postado por Jorge Serra

domingo, 18 de novembro de 2012

Haverá PT Alem de Lula?


A vida do PT se confunde com a do presidente Lula desde a sua fundação até os dias atuais. Daqueles petistas históricos, que participaram da sua fase embrionária, poucos permanecem no partido em seu formato atual, já bastante transfigurado em relação ao PT original.
O PT perdeu suas grandes bandeiras e hoje se debruça melancolicamente em causas que nada tem a ver com aquelas que o tiraram de seu nicho inicial e o lançaram no epicentro da macro política nacional.
De um partido que lutava pelas causas democráticas e sociais, e que num inspirado rompante de ousadia, ultrapassou as fileiras de suas militâncias mais fanáticas para ganhar a confiança e o objeto de esperança da maioria do povo brasileiro, o partido se debruça hoje em uma política medíocre, que visa, pela retórica complexa e confusa defender algumas de suas lideranças decaídas.
O partido não se mostrou sensível a este ponto quando defenestrou de suas fileiras membros mais independentes e dignos que já notavam o seu desvio histórico e o lodaçal onde ele submergia e sucumbia aos primeiros escândalos anunciados.
Só para citar alguns destes petistas notáveis que saíram levando com eles, em nacos consideráveis, a credibilidade e dignidade do partido:

Ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula, Marina Silva deixou o PT em agosto de 2009 afirmando ir "em busca de um sonho". Na época de seu desligamento da legenda, ela comunicou a decisão por telefone ao então presidente do PT, Ricardo Berzoini, e entregou uma carta em que justificou sua saída.
"Tenho a firme convicção de que essa decisão (de deixar o PT) vai ao encontro do pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, que há muitas décadas apontam objetivamente os equívocos do partido.

Cristovam Buarque foi ministro de Lula. No início de 2004, deixou a pasta da Educação ao ser demitido por telefone pelo então presidente.
- Eu não saí do PT, foi o PT que saiu de mim. Este é o grande crime do PT. O partido é de gente honesta, mas acomodada. A corrupção é de alguns petistas - disse na época o senador.

Heloísa Helena não saiu da legenda por conta própria. Foi expulsa da sigla em 14 de dezembro de 2003 junto com outros companheiros, como Babá e Luciana Genro, por não concordarem com as decisões do PT e se voltarem contra elas. Juntos, eles criaram o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). O deputado Chico Alencar, também ex-petista, filiou-se à nova sigla.
O mesmo caminho foi repetido por Plínio de Arruda Sampaio, um dos fundadores do PT. Ele foi, inclusive, o autor do estatuto do partido. Por não concordar com o rumo político do PT, desligou-se do partido no fim de 2005 para ingressar no PSOL.

Outro fundador do PT a deixar o partido em 2005 foi Hélio Bicudo. Vice-prefeito de São Paulo de 2001 a 2004, durante a gestão de Marta Suplicy, ele veio a público ano passado declarar apoio à Marina Silva no primeiro turno. No segundo turno, apoiou José Serra (PSDB).

E não foi o único. Fernando Gabeira, atualmente no PV, também ficou ao lado do tucano na eleição presidencial. Ele deixou a sigla em 2003 por discordar da política ambiental do governo Lula. Também ex-membro do PT, Soninha coordenou a campanha de Serra na internet. Agora, ela faz parte do PPS.

Outro importante membro do partido, Frei Beto expressa no livro A Mosca Azul, sua decepção e desilusão com os rumos tomados pelo PT após sua ascensão ao poder.

Afinal o que defendem hoje seus fanáticos serviçais e adeptos? Quais importantes estandartes lhes servem em sua ideologia distorcida e diluída nas poluídas teorias dogmáticas que abrem mão da ética, e dos valores que rezam em seu próprio estatuto?

Apregoam estatísticas e números para defender a qualidade de sua política, como se tais argumentos lhes oferecem salvo conduto para agir acima e alem da lei e da ordem.
Usam seus programas sociais como meio de convencimento e chantagem, diante de um povo fragilizado em seus meios de sobrevivência e informação.

Os resultados de sua política são uma grande conquista de um povo que vota e trabalha, e o PT em determinado momento teve nela seus méritos. Mas os retrocessos em sua visão ideológica só não são percebidos por partidários mal intencionados ou ignorantes, ou mesmo por aqueles que em seu fanatismo, se tornaram imunes a uma visão mais critica a respeito de sua trajetória política.

Com a derrocada física e política de Lula a quem ficará o encargo de conduzir o PT em seu futuro próximo? Qual líder petista terá a difícil missão resgatar sua memória, imagem e ideologia original?

Ou o PT se tornará a mesma massa disforme que vitimou o PMDB depois de Ulisses Guimarães. Um partido gigantesco em tamanho mas minúsculo em sua missão e propósito, mais preocupado em empregar seus partidários e defender membros condenados de forma justa e legitima por crimes variados contra as leis do Brasil.

                                                                                

                                              João Drummond

Penso, Logo Desisto (mesmo pensando positivo)


Pensando bem...pensar dá trabalho. Desde o advento do poder do pensamento positivo, sob os auspícios do Dr. Dale Carniege e posteriormente do seu discípulo brasileiro, o Dr. Lair Ribeiro, tenho feito o exercício, todo santo dia ao acordar, de repassar mentalmente as tarefas por resolver a curto prazo, e antes de dormir, um balanço positivo do que foi resolvido efetivamente naquele dia. Dedico-me também nestes entre - espaços a viajar na maionese dos meus sonhos.
Pensamos sempre com metas de curto, médio e longo prazo, com o objetivo de alcançarmos as sonhadas prosperidade e felicidade.
Vez por outra estes pensamentos tão bem dirigidos, são atacados e vencidos por idéias degradantes e pensamentos negativos, estes pequenos invasores vindos, sabe Deus de que tempo e lugar.
Talvez de nossos arquivos mentais ou de alguma radio transmissora de alta freqüência, quem sabe operada da outra dimensão, pelo mal afamado Murphy, propositor da famigerada lei que leva o seu nome.
Mesmo com todo o poder do pensamento positivo, nestes tempos cabeludos, a Lei de Murphy acaba por prevalecer, em muitas destas tentativas de resolver problemas do cotidiano, e de construir os planos para o futuro.

Enquanto penso nas vendas por fechar, lembro-me do sócio rabugento dizendo que se não vendermos mais a firma vai quebrar.
Quando me vejo sobre Mediterrâneo, pilotando meu próprio avião, no noticiário estão dizendo: subiu o preço do feijão.
Num momento estou fazendo planos para a minha futura vida milionária, logo minha mulher me lembra que tenho que comprar remédio para infecção urinaria.
Estou me vendo nas férias, esquiando nas montanhas nevadas de Bariloche.
─ Porque você não passa as férias em Pirapama? Meu filho ensaia em deboche.
Em outro momento estou caminhando pelas praças e ruas de Paris.
Minha filha me pede para comprar remédio para entupimento de nariz.
Quando estou fazendo as contas para comprar ações da Aracruz, minha mulher me lembra que tenho que pagar a conta de luz.
Estou velejando no meu iate milionário. Diz a empregada que deu cupim na porta do armário.
Em meus sonhos levo uma vida bem sucedida e agitada. Alguém grita para chamar o bombeiro porque entupiu a privada.
Estou pensando em voz alta sobre os planos para comprar um carro importado. Minha mulher me interrompe: ─ Mas antes vá até mercearia e me traga palmito enlatado.
Em momentos de baixo astral, percebemos que nossos grandiosos sonhos são sabotados, ainda na prancheta do imaginário, pelos pequenos e inconvenientes problemas do cotidiano.
Nossa muralha de otimismo e atitude positiva, construída com horas e horas de meditação e reflexão, às vezes ameaça desabar, diante destes dissabores do dia a dia, que como os cupins na porta do armário, tentam sem descanso nos levar a derrocada final.
Já ouvimos mais de uma vez que não devemos nos levar muito a serio, e que uma de nossas maiores habilidades, quanto sobreviventes, é sabermos rir de nós mesmos.
Neste processo de refluir do pensamento vamos aprendendo que sonhos são apenas sonhos e que podem se realizar ou não. Aprendemos também a desmistificar algumas crenças que desenvolvemos desde cedo, a respeito de sucesso, prosperidade, felicidade, poder e status.
Entre estes pensamentos conflitantes tão bem representados por mestres como Dale Carniege, Lair Ribeiro, e Murphy, e as experiências do cotidiano, entremeadas pelos sonhos e utopias vamos construindo um modelo que é só nosso.
É com estes modelos pessoais e exclusivos que acreditamos um dia arrogantemente, podermos mudar o mundo, e no final refluímos para objetivos mais modestos, como mudarmos apenas a nos mesmos, nos tornando pessoas melhores a cada dia.
Quem sabe fazendo com que, alem das nossas cinzas e heranças, nossas idéias nos sobrevivam alem, muito alem, do poder, do status e da gloria pessoal que poderíamos conquistar ou ter conquistado. Talvez até fazendo a diferença para alguém que realmente precise delas, quando estiver a atravessar o mar revolto e turbulento de seu próprio pensamento.


                                                                   João Drummond





sexta-feira, 2 de novembro de 2012

De Mesada a Mensalão, (Ou da Inocência à Corrupção)


Um dia destes, um amigo me dizia que seu neto de 9 anos, reclamara que a mesada que recebia do seu pai era muito pequena. Não dava pra nada. Pedia ao ele, seu avô, que intercedesse junto ao “velho” para que a aumentasse. Afinal estava indo muito bem na escola, era um menino bem comportado e merecia muito bem um mensalão.
Mensalão. Esta palavra entrou recentemente e definitivamente em nossas vidas e seu significado ainda não consta nos dicionários formais e oficiais. No informal é associado à pagamento de propinas contra atos de corrupção de forma constante e periódica.
Disse o amigo, que perguntou ao neto se ele sabia o significado daquela palavra.
─ Claro, (disse), deve ser uma mesada grandona. Antes eu achava que era mesadão, mas depois que vi na TV..., mesadão é muito estranho, mensalão é melhor.
Para não ter que explicar ao garoto o seu significado, tentou fazê-lo aceitar a expressão mesada grande, mas o neto explicou que usar duas palavras nestas horas ia contra o espírito e a objetividade dos negócios. Era muito mais fácil cobrar do pai todo mês, um mensalão que uma mesada grande. Vamos que o pai estivesse com uma baita pressa e resolvesse ouvir só a primeira palavra, antes de abrir a carteira e sair correndo para o trabalho. Mensalão não deixaria duvidas quanto ao montante a ser repassado.
Havia certa lógica naqueles argumentos, e meu amigo achou por bem perder algum tempo explicando para o neto o significado real daquela palavra, que surgira assim do nada, e ganhava manchetes todos os dias.
─ Mensalão (começou) é uma coisa ruim. Não tem nada a ver com mesada, etc., etc. e tal.
Depois de ouvir atentamente a explicação do avo, o menino perguntou:
─ Quer dizer que mensalão só pode ser cobrado se a pessoa estiver fazendo algo errado?
Ante a afirmativa àquela pergunta simplista, (para encerrar o tema), o neto retrucou em voz baixa:
─ Então já sei como cobrar do meu pai um mensalão. Sabe a Jacira, a empregada lá de casa? Tem dias que, quando a mamãe vai para ao salão ou ao supermercado, meu pai entra no quarto dela e fica lá quase uma hora. Quando ele percebe que eu vi, diz que estava consertando da TV dela, e pede para eu não dizer nada para minha mãe.
Vou dizer para meu pai que se ele não me der um mensalão, vou contar para minha mãe que ele fica consertando a TV no quarto da Jacira quando ela não está.
Meu amigo perdeu a paciência e ralhou com o neto, dizendo que aquilo que ele queria fazer era chantagem, e encerrou o papo pensando que teria que ter uma conversa séria com seu filho.
A verdade é que o garoto lhe dera um tremendo nó cego na cabeça, e sem saber se aquela situação toda seria hilária ou trágica, o meu amigo passou a uma longa reflexão sobre atos de corrupção pública e privada, e os efeitos de sua exposição constante nos meios de comunicação para esta geração tão ligada e esperta.
Os meninos e meninas já crescem vendo traições e trairagens nas novelas em horário nobre, convivem com noticias de atos de corrupção como algo banal e rotineiro, assistem à violência crescente e gratuita como fatos normais do dia a dia.
Será que dá para falar em educação familiar e escolar, contra esta avassaladora onda de deseducação que abestalha e corrompe nossos filhos e netos?
Perguntei-me mentalmente se aquelas expressões de amargura e decepção do meu amigo tinham como pivô seu filho ou seu neto. Ou ambos?
Na verdade ele estava transportando uma questão particular para o mundo das generalidades. E com certeza não era dilema só dele, mas de toda uma geração vitimada pelo tsunami de conceitos e informações, que através das novas tecnologias da comunicação, rasgaram antigos e sólidos terrenos de crenças e valores.
Para a geração que cresceu jogando bola de pano, bolinha de gude, finca e outras brincadeiras parecidas, que viveu a época em que o professor, o prefeito, o policial, o padre e o juiz eram figuras acima de qualquer suspeita, estes novos tempos que escancaram toda a sordidez da natureza humana, inclusive para as crianças, são de difícil compreensão e assimilação.
Não que esta sordidez não existisse antes, mas as crianças estavam protegidas em sua aura de inocência e candura, em um mundo só seu. Acreditar até em Papai Noel era possível então. Quando nossas crianças estão perdendo sua inocência?  Quando flagram os pais nos anti-exemplos? Quando são exploradas de todas as formas por interesses mesquinhos, escusos e pervertidos? Quando tem a sua frente, em janela particular e solitária, a um simples clique, todas as imagens e sons de uma cultura doentia e depravada?
Vivemos enfim uma época em que um avô não consegue mais explicar ao neto o que é uma simples palavra, (muito menos mensalão), que um filho acha um jeito de cobrar propina ou mensalão do pai que entra sorrateiro no quarto da empregada, ou que um pai não consegue fazer um filho menor de idade crer que estava candidamente consertando a TV da Jacira.
A TV da sala já mostrara o lado oculto e sórdido destas histórias, enquanto o garoto tomava seu chocolate com biscoito, ao pé do sofá, onde seus pais, permaneciam atentos e alienados, ligados no jornal das oito e trinta, ou na novela das nove.


                                      

                                                  João Drummond




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